O Carniceiro e o Condenado - Matheus Marraschi
Com o corpo cansado e ofegante, Balthus estava tingido de rubro, o sangue que corria de seus ferimentos se misturava ao sangue da grande fera morta sob seus pés. Akuji, contudo não tivera a mesma sorte ou habilidade do soldado, o bárbaro de pele negra estava caído e extremamente ferido no chão da arena a cinco metros do leão que quase o matou, este que ainda lutava contra a força de quatro soldados que agarravam firmemente as correntes responsáveis por impedi-lo de destroçar o escravo impotente. Balthus tentou aproximar-se do companheiro ferido, mas dois soldados agarram-no pelos braços e o levaram em direção ao portal que conduzia as prisões no interior do anfiteatro.
A multidão alvoroçada com sangue calou-se abruptamente após a aparição do Comandante Elysio, com uma bela capa vermelha enrolada sobre as ombreiras pertencentes a brilhante couraça de aço. O comandante de descendências exóticas tomou a frente do corpo caído de Akuji na arena, ficando de frente para as arquibancadas lotadas ostentando um silêncio que perdurava muito tempo, enquanto Elysio encarava o Conde Castillius, que do lugar mais alto das arquibancadas olhava a todos de cima. Veias estavam expostas nos bíceps dos soldados que ainda seguravam as correntes para conter a fera, que mesmo ferida, rugia em frenesi tentando avançar na carne parda de Akuji.
Elysio apontou para o homem caído, e disse - Este homem! Um homem de terras bárbaras, de outra raça! ..... Uma raça que, em muitos outros lugares de nossas terras só serve para lavrar campos de senhores, aqui atuou como um soldado! - Gritava Elysio pausadamente, referindo-se ao tempo em que o Arcadio contratou Akuji como soldado de Attasia.
Ainda encarando a plateia nas arquibancadas Elysio declarava em alto e bom tom - Em tempos de crise, tempos em que vocês pagavam o que não tinham, este homem recebia! Recebia as moedas suadas e manchadas com o sangue vocês, para desfilar por Attasia trajando armaduras e ostentando bens que vocês jamais poderiam pagar! - O silêncio se instaurou por um momento, antes de Elysio continuar - Portava armas e dormia sob uma lareira no forte da cidade, enquanto vocês se enrolavam em trapos! Decisão está, tomada pelo filho de Devante, o antigo Conde!
Olhares focados ao escravo de indignação formaram-se em rostos que o amaldiçoavam.
Elysio prosseguiu - Mas não hoje, senhores! Com o Conde Castillius tomando as rédeas de Attasia, jamais será permitido que um homem inferior ocupe uma posição superior a de vocês! Sintam-se vingados pelo novo senhor destas terras! ... Castillius de Attasia!
Castillius, sentado no alto do anfiteatro apenas assentiu com a cabeça, e os quatro soldados simplesmente, soltaram as correntes. O grande leão Nemédio avançou contra Akuji, cujo único ato fora levantar instintivamente a mão na direção do seu rosto. O corpo foi quebrado e a pele de ébano dilacerada, enquanto seu sangue ruborizava o chão de terra e a pelagem dourada da fera. O momento ali presenciado não impressionou apenas os eufóricos, mas também os apavorados e para a estranha surpresa do novo Conde e seus subordinados. Um contraste de sensações e sentimentos se espalhava por entre os semblantes nas arquibancadas, que assistiam aquele, outrora um forte homem, sendo transformado numa carne dilacerada, miolos e sangue.
Link para o Conto na sua forma Original: https://www.facebook.com/297495936950763/photos/a.301253003241723.76211.297495936950763/829157820451236/?type=1&theater
